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Namoradas se casam à distância durante a quarentena

Atualizado: 4 de mar. de 2022


A noivinha Amanda, no Brasil, e a versão virtual da noivinha Sabrina, nos Estados Unidos


"'Breaking News! Eu e Sabrina vamos casar. De verdade. Logo eu!’Essa foi a mensagem que enviei para minha irmã e, em seguida, para minha mãe assim que recebemos a aprovação da licença para realizar o nosso casamento. Meu (Amanda Abed, 26 anos, relações públicas) e de Sabrina (Gleason, 27 anos, advogada), minha então noiva que, em menos de trinta dias, se tornou minha esposa. Sim, tivemos apenas trinta dias para casar. Durante uma pandemia mundial. Eu no Brasil e ela nos Estados Unidos. Explicarei como, mas primeiro contarei como a internet nos ajudou e teve um papel especial sendo a dama de honra do nosso casamento.

Nos conhecemos em 2017, em uma das minhas passagens por Nova Iorque e, depois de dois anos, em uma viagem em família por Vegas, nos reencontramos. Mesmo voltando ao Brasil, mantivemos o contato, que foi intensificando rapidamente. Eram trocas de mensagens o dia todo, seguidas de chamadas de vídeo quase todas as noites - e olha que tínhamos cinco horas de diferença no fuso-horário. Em 13 de novembro, Sabrina me mandou uma mensagem perguntando se eu queria ser sua namorada. Eu, que nunca teve um relacionamento sério e já tinha planos em ser a tia solteira e viajada da família, estava, enfim, namorando - à distância.

Em 10 meses de namoro e 1 mês de casadas, só estivemos juntas por 21 dias, em fevereiro, naquele tempo longínquo onde o coronavírus ainda não era o vilão da história. Foi decisão nossa entrar de cabeça em um relacionamento assim, só não imaginávamos que seria tão difícil e tão incerto o próximo reencontro. Três voos cancelados, inúmeras discussões, incontáveis chamadas de vídeo e planos repensados. Até que em um dos dias trabalhando em casa, vi uma reportagem na TV sobre casais separados pela quarentena e sobre uma manifestação on-line chamada "Love is not tourism" (amor não é turismo), onde pessoas do mundo todo se uniram pedindo aos respectivos governos que liberassem a entrada de seus parceiros. Por conta da Covid-19 as fronteiras de praticamente todos os países foram fechadas, permitindo somente a entrada de residentes, familiares próximos, cônjuges ou a trabalho.

Encontrei nas redes sociais o grupo sobre "Love is not Tourism" e comecei a ler todos os depoimentos. Era a minha diversão antes de dormir. Histórias de sucesso, de quem conseguiu permissão para embarcar e também dicas de quem estava passando pelos diferentes processos de solicitação de viagem. Casais das mais diversas nacionalidades trocando experiências e incentivando quem estava começando a desacreditar. Um desses posts contava a história de uma americana e um sueco que, por meio de um casamento virtual, legalizado em alguns estados norte-americanos, conseguiram enfim se reencontrar. Eu e Sabrina começamos todas as buscas.

"Vamos casar então?" Talvez esse tenha sido o pedido de casamento. Já que tudo ia ser diferente mesmo, decidimos então aplicar para conseguirmos a licença para casar pelo estado de Utah, um dos estados em que a união virtual é legal. Todo o procedimento é feito on-line e, em poucos minutos, recebemos a autorização para marcar a cerimônia. Foi quando a ficha caiu. Eu que nunca havia namorado sério, em nove meses de relacionamento já estava pronta para casar. O amor tem dessas coisas, né? Clichê, eu sei! Recebemos a licença no dia 2 de agosto e marcamos a cerimônia para o dia 21.

Eu sou a primogênita na minha família. A primeira filha, neta e sobrinha. Aqui em casa, fazemos festa para qualquer comemoração. Imagina só se perderíamos a oportunidade de festejar esse casamento, o mais atípico da família. "E daí que é on-line? Vamos fazer uma live!". A ideia surgiu dos meus amigos e foi logo acolhida pela família, que amou a iniciativa. Minha mãe encheu a caixa de mensagens - e a paciência - da Sabrina para convencê-la de que seria muito importante, afinal, a filha dela estaria enfim casando. Pois bem, mandamos o convite um dia antes para que todos assistissem ao nosso casamento no meu instagram. Isso mesmo, o nosso casamento seria transmitido ao vivo no Instagram para nossos convidados e quem mais quisesse assistir. Bem democrático, já que ninguém precisaria pensar no look do casório - nem mesmo a noiva.

Resgatei um vestido velho que já tinha usado em pelo menos três festas de casamento. Um casal de amigos foi enviado pela minha tia para que fizesse meu cabelo e maquiagem. O que eu não imaginava é que, em menos de dois dias, minha família organizaria um mini casamento surpresa. Em uma sexta-feira fria, bem ao estilo faça você mesmo, na casa da minha vó, eu fui surpreendida com uma linda surpresa. Estava tudo decorado com flores, fotografias, mesa de jantar e - pasmem - uma Sabrina em tamanho real, feita de papelão e com a nossa cachorrinha Athena junta! Sim, minha família é festeira e criativa desse jeito!

O casamento aconteceu via Zoom. Minha mãe sentada ao meu lado como uma das testemunhas, em São Paulo, a Sabrina com a mãe dela em Syracuse, no estado de Nova Iorque e o Russ, oficial que realizou o casório, na cidade de Provo, em Utah. Os meus quase 90 convidados estavam no conforto de suas casas, acompanhando toda a cerimônia, que durou em torno de 30 minutos. Estavam todos assistindo a live, interagindo, mandando muito amor e, de certa forma, comemorando com a gente. O lado bom de casar em casa é que logo em seguida o vestido foi substituído por um moletom, o banquete foi pizza e não precisamos nos preocupar com o motorista da rodada, porque o sofá estava logo ali.

Foi um dia especial, marcado por um casamento atípico que celebrou um amor nascido na internet, depois das tantas mensagens e vídeos trocados. Não fomos separadas pela covid-19, afinal a distância já era nossa velha conhecida. Na verdade, foi justamente para evitar essa distância doída que resolvemos nos casar. Em outubro, se não precisarmos mudar os planos novamente, estaremos juntas - em quarentena -, mas pelo menos juntas. E no fim das contas é isso que realmente importa, né? O amor é a nossa resposta ao vírus e a todas as incertezas desse novo normal'."


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*Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.

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