O Amor Não É Matemática
- lucianeangelo
- há 1 dia
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Em tempos de amores calculados e compatibilidades digitais, o filme "Amores Materialistas" questiona se é possível prever um relacionamento.

Atenção, contém spoilers! Em “Amores Materialistas”, que estreia nesta quinta-feira 31, a diretora Celine Song cria uma crítica sutil, mas contundente, ao modo como os relacionamentos amorosos vêm sendo tratados nos tempos atuais: como produtos empacotados, otimizados por algoritmos, com foco na compatibilidade estatística em vez da conexão emocional. O longa-metragem estrelado por Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans vai além da comédia romântica tradicional, mergulhando nas falhas humanas, nas escolhas incertas e na beleza da imperfeição.
Lucy Delaney (Johnson), uma agenciadora de encontros de alto padrão, representa o ideal contemporâneo de que o amor pode ser previsto, calculado e, por fim, entregue como um produto sob medida. Sua agência se baseia em dados: altura, localização, faixa etária, salário e até estilo de vida. Tudo é quantificável. Tudo parece fazer sentido até que ela mesma entra em conflito com essa lógica.
Ao longo do filme, a equação começa a falhar. A relação com León (Pedro Pascal), o “unicórnio”, homem rico, maduro, charmoso, e estatisticamente perfeito deveria ser o final feliz. Mas a frieza da perfeição se revela: ele tem tudo, menos profundidade emocional. Em contrapartida, Jake (Chris Evans), sem status, com uma carreira instável e uma vida meio bagunçada, surge como um improvável candidato ao coração de Lucy. E é aí que o filme se transforma.
A força de “Amores Materialistas” está justamente em mostrar que o que nos conecta a alguém vai muito além de critérios objetivos. A imperfeição das relações, os desencontros, os medos, as inseguranças e as histórias mal resolvidas é o que torna um relacionamento real. Amor não é encontrar alguém que se encaixe perfeitamente nas nossas planilhas, mas alguém com quem possamos construir um caminho, mesmo entre falhas.
A frase dita por Lucy “o sucesso do primeiro encontro não é o segundo encontro. É envelhecer juntos” sintetiza o espírito do filme. Ela reconhece que a verdadeira medida de um relacionamento não está na compatibilidade inicial, mas na capacidade de resistir ao tempo, de sobreviver às transformações da vida e de crescer a partir das imperfeições.
O filme também questiona o imediatismo emocional dos nossos tempos. Ao tentar prever o amor, Lucy e sua agência ignoram um elemento essencial: o sentimento. Sentimento não se mede, não se calcula, não se antecipa. Ele surge do inesperado, da vulnerabilidade e da disposição de se envolver com alguém real com falhas, com traumas, com bagagens.
No fim, “Amores Materialistas” não propõe o fim dos aplicativos ou das agências de encontro, mas sim um olhar mais humano sobre o amor. O filme propõe que talvez devêssemos parar de tentar prever o próximo passo e apenas caminhar com o outro, tropeçando juntos, mas seguindo adiante.
*Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.
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