top of page

Cirurgias íntimas: opressão à mulher ou uma necessidade?

Atualizado: 4 de mar. de 2022


Estudei o tema e conto mais sobre essas mudanças no corpo da mulher com procedimentos como a labioplastia e a reconstrução do hímen.



Alcançar um padrão de beleza imaginário? Ter mais prazer? Agradar ao marido? Olhar para autoestima? Melhorar a saúde? Questões religiosas? Ou até mesmo um ato de mutilação? Inúmeras foram as perguntas que me vieram à cabeça quando me propus a escrever sobre o tema das cirurgias íntimas que vão desde a diminuição do lábios internos até a reconstrução do hímen. Nas últimas semanas li estudos, recolhi depoimentos de médicos e pacientes envolvidos nesta questão. E todas as vezes que parava para pensar na decisão destas mulheres em se submeter a este tipo de procedimento, era inevitável olhar para as questões de autoimagem, amor próprio, autoconhecimento.


Números divulgados no ano passado pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) mostram o crescente descontentamento de mulheres com a estética da região íntima. E o Brasil é o líder neste tipo de intervenção. A Labioplastia, remoção de uma parte dos lábios internos, é a campeã. Segundo o Isaps, este tipo de cirurgia foi realizada em 138 mil mulheres, em todo o mundo, e de todas as idades, em 2017. De acordo com o levamento, de 2015 a 2017, o Brasil passou de 12.800 para 28.300. Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas Estéticas, há registros de meninas de 9 anos pedindo essa cirurgia.


Investigando esses dados, percebi que a maioria das mulheres faz a busca por estética e aí me veio dúvida: será que os médicos estão realmente orientando de forma ética essas mulheres antes de cortar uma parte do corpo delas? Digo isso porque nenhuma vulva é igual a outra e isso é algo que deve ser difundido. A mulher que tem lábios internos maiores “não tem um defeito de fabricação”, elas apenas são como são. E se querem um procedimento por conta da estética seria melhor antes olhar para o próprio corpo, para a sua beleza, se entender melhor, a famosa aceitação do corpo. Olhe para você, para sua origem, saiba primeiro quem você é. Em 2016, um estudo no Reino Unido pediu para quem mil mulheres identificassem sua anatomia numa ilustração médica. 44% das mulheres não conseguiram identificar a vagina e 80% delas não identificaram a vulva.


Gostaria imensamente que os médicos que realizam esse tipo de procedimento (sei que muitos são éticos e fazem isso), olhassem para a paciente como uma mulher que, muitas vezes precisa de ajuda, “será que ela está sofrendo pressão de alguém para fazer isso ou até mesmo a busca de uma beleza que não existe?”, “realizar essa cirurgia só vai maquiar algo mais profundo e que não será solucionado?”. Retirar parte dos lábios muitas vezes não muda o interior e ela pode continuar infeliz ou se sentir feliz porque ela se encaixou num padrão de beleza irreal. Mas se ela não se resolver, estará nessa eterna busca realizando outros inúmeros procedimentos.


Conversando com uma ginecologista, ela me relatou que tem que uma pasta com inúmeras fotografias de vulvas e sempre mostra para a paciente essa diversidade anatômica e como são os resultados. “Olha, pode não ficar perfeito porque o ser humano não é totalmente simétrico.” Embora a cirurgia dure cerca de 40 minutos, muitas vezes durante a recuperação, pode haver complicações na cicatrização porque a área é de extrema sensibilidade.


Esse tipo de procedimento indico para casos que afetam realmente a saúde e trazem doenças como uma das entrevistadas me relatou que tinha candidíase por repetição por seus lábios internos ficarem muito úmidos, gerando proliferação de fungos e infecção recorrente. Depois do procedimento, ela não teve mais. Além disso, não conseguia usar calça jeans justa e durante a menstruação chegava até a sentir dor por causa do atrito. Que bom que ela solucionou estes problemas! Porque a medicina está aí para nos ajudarmos. Mas temos que ter cuidado para não ultrapassar essa linha do que é a saúde e a busca incessante de uma beleza que não existe. Outro avanço são os lasers para melhorar a lubrificação e também para incontinência urinária porque ajudam mesmo nessas questões. Mas, infelizmente, ainda são muito caros e grande parte da população não tem acesso.


Há um outro procedimento que devemos dar atenção que é a himenoplastia (reconstrução do hímen). Até recentemente ativistas fizeram um apelo ao governo britânico para proibir a cirurgia que "restaura a virgindade" no Reino Unido. As mulheres que se submetem à operação são, na maioria dos casos, muçulmanas de origem conservadora — que correm o risco de serem marginalizadas ou, em casos extremos, mortas, se o marido ou a família descobrem que fizeram sexo antes do casamento.


Em que ano estamos??? Devemos tirar o tabu da pureza, da virgindade pré-casamento! Isso não define uma mulher! E aqui no Brasil 99% das mulheres que fazem essa cirurgia são para agradar ao marido. Que triste ver isso em pleno 2020. O nosso valor não está na nossa virgindade, o nosso valor está em sermos nós mesmas, está no nosso caráter, na nossa bondade e não se alguém vai romper nosso hímen ou não. Mulheres, vamos nos conhecer mais, entender nosso corpo. Não estou aqui querendo proibir nada até porque cada uma sabe da própria história, mas olhe para você e veja sua real necessidade. Use a medicina a seu benefício sim, mas saiba primeiro o que realmente será uma solução ou se somente irá “tapar com a peneira" um problema que está enraizado em você. Só assim seremos mais felizes…


LEIA MAIS:


* Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.

bottom of page