Casais que vivem separados
- lucianeangelo
- 1 de jul.
- 3 min de leitura
Cada vez mais casais optam por manter um relacionamento estável sem dividir o mesmo teto. A tendência, conhecida como LAT (Living Apart Together), levanta debates sobre independência, intimidade e os novos contornos do amor contemporâneo.

Por muito tempo, a imagem do casal ideal esteve associada à vida sob o mesmo teto. Compartilhar o mesmo espaço, a mesma rotina e, por vezes, até os mesmos amigos e objetivos, era entendido como o ápice do compromisso afetivo. Mas esse paradigma vem sendo gradualmente reformulado. Um número crescente de casais opta por uma forma diferente de relacionamento: o LAT - sigla para Living Apart Together, ou “viver separados, juntos”.
A ideia é simples, mas ainda causa estranhamento em parte da sociedade. Casais LAT mantêm um relacionamento estável e afetivo, mas moram em residências separadas. Em geral, não se trata de uma fase transitória ou uma imposição circunstancial, mas de uma escolha deliberada.
Autonomia ou fuga?
O LAT está frequentemente ligado a um desejo de manter a individualidade e a autonomia emocional dentro do relacionamento. Há uma valorização cada vez maior da vida privada, da independência pessoal e da liberdade de gerir o próprio cotidiano. Para alguns, dividir o mesmo teto é um fator de desgaste. Viver separado preserva o espaço individual e permite que o relacionamento respire.
No entanto, é preciso cuidado para não transformar o LAT em uma forma de evitar intimidade real. A convivência traz à tona vulnerabilidades e exige negociação diária. Viver separado pode, em certos casos, camuflar dificuldades de entrega e medo de comprometimento.
Os prós e os contras do LAT Assim como qualquer arranjo afetivo, o LAT tem suas vantagens e desvantagens.Entre os principais benefícios apontados por casais que optam pelo modelo estão: Preservação da autonomia: Cada um mantém sua rotina, espaço pessoal e decisões diárias com mais liberdade. Redução de conflitos cotidianos: Pequenas divergências relacionadas à divisão de tarefas, organização ou hábitos domésticos tendem a ser menos frequentes. Valorização do tempo juntos: A convivência se torna mais intencional e menos automática, o que pode aumentar o investimento emocional nas interações.
Por outro lado, o modelo apresenta alguns desafios importantes:
Maior risco de distanciamento emocional: A falta de convivência pode gerar desconexão afetiva se não houver comunicação constante.
Barreiras logísticas: A distância física pode dificultar a gestão de filhos, compromissos familiares e apoio mútuo em momentos críticos.
Falta de reconhecimento social: Muitos casais LAT enfrentam o julgamento de familiares e amigos que associam a vida separada à falta de comprometimento.
Uma tendência em crescimento?
Embora ainda não existam estatísticas precisas no Brasil sobre a prevalência dos casais LAT, o fenômeno é mais visível em grandes centros urbanos, onde a busca por equilíbrio entre carreira, vida pessoal e relacionamentos é constante. Na Europa e em países como o Canadá, o modelo já é objeto de estudos acadêmicos e políticas públicas voltadas a novos arranjos familiares.
O que antes parecia contradição, amar sem morar junto, agora é encarado como uma das muitas formas legítimas de viver um relacionamento. E se o LAT é, para uns, um abrigo da individualidade, para outros, é uma ponte entre a liberdade e o afeto.
Como em qualquer relacionamento, o mais importante continua sendo o diálogo, o respeito mútuo e a escolha consciente. Morar junto ou separado pode ser apenas um detalhe, desde que o compromisso esteja claro, ainda que ele resida em dois endereços diferentes.
*Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.
Comentarios