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“Não somos vistos como parte da sociedade”

Atualizado: 3 de mar. de 2022


Uma conversa sobre bissexualidade com o criador de conteúdo e não-binário, Nick Nagari, um dos novos expoentes da comunidade LGBTQI+.



No mês do orgulho, escolhi Nick Nagari para falar sobre um assunto ainda pouco explorado: a bissexualidade. O criador de conteúdo, de 24 anos, não-binário e bissexual fez uma reflexão sobre seu cotidiano e sobre sua sexualidade. Ele também é fundador do projeto social Quem Bindera, que ajuda a melhorar a qualidade de vida de pessoas transexuais. Em dois anos de atividade, já doaram cerca de 800 binders (faixa de compressão do seio, item essencial para a transição). Com cerca de 30 mil seguidores, no Instagram, ele diariamente informa e coloca em pauta assuntos relacionados à bissexualidade.

Entenda abaixo um pouco mais sobre os questionamentos diários de Nick:

Não pertencimento: “Você não se sente na comunidade LGBT, mas também não se sente na comunidade heterossexual. Não temos lugar de acolhimento e amparo, então diminuímos nossas próprias dores. Não somos vistos como parte da sociedade.”

Apagamento: “Não temos referência em lugar algum. A organizadora da primeira parada LGBT foi Brenda Howard, uma bissexual, mas a maioria das pessoas não sabe isso. Somente nos anos 70 é que começamos a criar as próprias comunidades. Antes disso, ninguém ouvia nossas demandas, era como se não estivéssemos presentes. Bissexuais não-heteronormativos sofrem outro apagamento, o de serem denominados como gays ou lésbicas. Não, nós somos bissexuais.”

Bifobia: ““Opressão que vai desde o apagamento histórico até a atual exclusão por parte da maioria e minorias, atravessando principalmente a saúde mental de pessoas bissexuais.”

Objetificação: “Mulheres bissexuais sofrem com o fetiche do homem achar que com elas tem o direito de fazer sexo com duas mulheres ao mesmo tempo e tudo bem, do corpo dela estar sempre disponível para o sexo a três. Quando essas pessoas também são negras, muitas vezes, essa objetificação é dupla. O homem bissexual negro é visto como um genital ambulante, que obrigatoriamente vai ser o ativo da relação.”

Ser chamado de confuso: “Não tem nada de errado em ser confuso. Mas não é a confusão pela sexualidade. Eu tenho essa certeza na minha vida e lido com ela. Não é porque me atraio por pessoas que isso significa uma confusão, uma indecisão. Me atraio por outras pessoas, somente isso. Falar que somos confusos, é apenas a ponta do iceberg. O mundo em que vivemos é estruturado de forma binária. Não nos encaixamos nas caixinhas tradicionais e, por isso, temos que nos reafirmar a todo momento. Isso afeta a saúde mental.”

Comunidade bissexual: “O que muitos ainda não sabem é que temos uma comunidade. Existem pessoas que lutam pelas pautas da bissexualidade, pela nossa história e que podem acolher outros que precisam.” LEIA MAIS:


Texto originalmente publicado para o site da Vogue Brasil.

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